segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Filme do Desassossego

´Bem, estava aqui a tentar descansar, porque desde que o começou o Mundial, Deus sabe que preciso. Mas após 20 minutos deitada, descobri que não ia conseguir, e apercebi-me que, se ia fazer este post, o momento era agora. E vão já perceber porquê.

Eu ontem de manhã estava, como estou grande parte do tempo em que não tenho mais que fazer, à procura de filmes e séries, e este filme saltou-me à vista por ser obviamente um filme português num site obviamente anglo-saxónico. Eu ainda tive as minhas dúvidas sobre se devia ou não vê-lo, mas depois de pensar um pouco lá decidi arriscar.

A primeira coisa a dizer sobre este filme do ano passado, é aquilo que será óbvio, ou pelo menos para mim foi, para quem já passou pela dolorosa experiência de ser obrigado a estudar Fernando Pessoa e os seus principais excelentissimos heterónimos. Este filme é uma encenação do "Livro do Desassossego", de Bernardo Soares, uma das maiores e mais polémicas obras de um nossos maiores escritores (Pessoa, não Soares), que estranhamaente, os srs. do Ministério foram simpáticos o suficiente para não nos obrigar a tentar perceber, até porque provavelmente falhariamos á grande.

O filme é de João Botelho, e conta com mais caras conhecidas do que muita gente se daria ao trabalho de tentar sequer reconhecer.

Este não é um filme fácil, que qualquer pessoa consiga ver no total das suas 2h, e mais ainda, entender por completo. Eu não conheço o texto original, e talvez isso dificulte a minha tarefa, mas eu realmente apenas entendi parte do filme.

Neste filme, ou pelo que eu percebi dele, vemos o heterónimo em acção, ou seja, vemos Pessoa sair de si, interagindo até com esta outro homem, e perdendo-se nele, para chegar ao fim e voltar a si, com um enorme monte de rascunhos, que chama um livro, que nunca se lembra de ter escrito. E provavelmente já falei demais, mas pronto, se isto ajudar a pobre alma de alguém, já não se perde tudo.

Bernardo Soares é um homem...depressivo, não há outra maneira de o dizer. Algo delirante também. Grande parte do tempo ele tem uma maneira irónica de imaginar os outros pronunciar as próprias palavras, nas situações mais entranhas. Ele não muito sentido grande parte do tempo, e todo o mundo á volta dele parece irreal.

É dificil perceber o tempo e a sequência desta história, até agora, apesar de a sinopse dizer "hoje" ainda estou a tentar entender quando raio é "hoje". A acção tende a progredir para logo a seguir regredir, o que não ajuda muito com o esforço de compreensão.

Por outro lado, este "personagem" é bastante lúcido na sua loucura. Tanto que, no final,  mesmo antes de voltarmos á realidade, ele anunciar que vai desaparecer.

O filme tem momentos e momentos. Adoro as partes do restaurante, têm sempre um tom irónico quase cómico. Adoro o bordel. O discurso meio louco da stripper sobre a dor.

Honestamente que não percebi a ópera de eu diria á volta de 10 minutos, que se não me engano vem imediatamente antes desta cena. Foi de longe a parte mais dificil de ver.

Mas verdade seja dita, nenhuma parte deste filme é insuportável. Ele vai sempre dar que pensar, muito provavelmente ser bastante pesado, e quem sabe, afectar o sono, mas vale sempre a pena ver, estando, como é óbvio, a pessoa aberta a passar pela experiência.
M
Se recomendo? Sim, mas com uma boa preparação mental de antemão e possivelmente a leitura do livro.

E pronto, é isto, espero que tenham sobrevivido a este post! Mais logo volto com posts mais leves e alegres.

xoxo



1 comentário:

  1. Não conhecia este filme.
    Mas pelo pouco que li de fernando pessoa, aposto que é daqueles que só percebes se estiveres com muita atenção e puxares pela cabeça

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